- Museu do Neo-Realismo
- Acervo
- Coleção
- Sem título, 1943-1944
Sem título [1943-1944]
Mário Dionísio
Óleo sobretela
145 x 203 cm
Coleção Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo
Em depósito no MNR
Nº inv. AP-1
Podemos então observar que esta pintura de grandes dimensões da autoria de Mário Dionísio, nunca finalizada, remete-nos desde logo para uma espécie de síntese dos temas essenciais que ocuparam as preocupações conteudistas dos artistas do neo-realismo. Da maternidade, ao centro da tela, ao trabalho do operariado fabril e às reuniões clandestinas, no canto inferior direito, passando pelo trabalho do campesinato, em toda a zona superior da tela, ou do labor da estiva, no cais, paisagem industrial e ainda ao lazer – uma avaliação crítica da vida noturna, numa influência directa da “nova objectividade” produzida na Alemanha por Georg Grosz ou Otto Dix – Mário Dionísio elabora uma das mais ambiciosas tentativas de realização da pintura neo-realista. Por outro lado, o nível de concentração temática traduz ainda a obra como uma espécie de mosaico formal do próprio movimento, impondo-lhe soluções de composições diversas, consoante os temas abordados.
Todavia, podemos ainda interpretar esta obra como uma das metáforas mais decisivas sobre o próprio destino do movimento neo-realista no que às artes diz respeito. Inacabada, ou mesmo abandonada, esta pintura de grande escala simboliza, também, de algum modo, esse afastamento deliberado com que o neo-realismo se viu confrontado a partir dos anos 50. Como se esse ambicioso projecto de intervenção cívica e artística tivesse sido suspenso (afinal, para sempre), antes mesmo de produzir alguns resultados com que haviam sonhado todos os oposicionistas ao salazarismo.
David Santos e Luisa Duarte Santos, in Catálogo da Exposição uma Arte do Povo, pelo Povo e para o Povo, Neo-Realismo e Artes Plásticas, Museu do Neo-Realismo, 2007