Óleo sobre tela 119 x 100,5 cm Coleção Museu do Neo-Realismo Doado pelo artista Nº inv. MNR-R.000299-06
É num abraço entre as três figuras que se detém esta obra. Na solidariedade, na compaixão face à adversidade e ao desespero – duas mulheres e uma criança, de olhar perdido ou apreensivo. Em estilização figurativa claramente identificável desta fase pictórica de Querubim Lapa, de corpos alongados de pouca espessura volumétrica, em desproporções intencionais, ritmados por vestes pregueadas quase a-naturais, e em forte densidade matérica e tonal. A desconformidade dos membros, braços e pernas, resulta numa presença expressionista clara, acentuada por detalhes como o de um pé que parece uma outra mão, uma entre as ‘cinco’ representadas. A representação das pedras do chão onde se senta esta trindade torna-se mais um elemento significante da implícita dificuldade ou provação por que passam, metáfora de um percorrer duras pedras de um caminho. Mas aqui numa atitude de quase desistência ou de indecisão: figuras paradas, sentadas, estáticas.
Entre uma linguagem modernista e expressionista, e um realismo de inspiração social mas também de marcada tonalidade lírica, embora mais que apelar ao belo, quase realça o seu contrário, há nesta pintura de Querubim Lapa uma simultaneidade entre uma orgânica figuração que aparenta ser maior do que ela própria e uma contenção trazida pela geometria de alguns dos volumes.
Luisa Duarte Santos, in Catálogo da Exposição uma Arte do Povo, pelo Povo e para o Povo, Neo-Realismo e Artes Plásticas, Museu do Neo-Realismo, 2007